20090105

VATICANO
Igreja Católica deixa de aplicar leis italianas
31 12 2008 14.10H


O Vaticano anunciou hoje que a partir de 1 de Janeiro não aplicará automaticamente as leis italianas, decisão que abalou o país onde estão actualmente em debate projectos éticos e sociais controversos.
Destak/Lusa
destak@destak.pt

Até à data, o Vaticano transpunha automaticamente as leis de Itália para a cidade-Estado, salvo se houvesse «incompatibilidade radical» com os valores católicos (divórcio, aborto e outros).
Na sequência de medidas aprovadas pelo Papa Bento XVI, em Outubro, as leis italianas passarão a ser, a partir de 1 de Janeiro, apenas «fontes supletivas» para as leis do Vaticano, que se inspiram essencialmente no Direito Canónico.
Num artigo, na edição de hoje do diário do Vaticano, L'Osservatore Romano, o presidente do Tribunal de Apelação do Estado da Cidade do Vaticano, o espanhol José María Serrano Ruiz, refere a decisão do Papa.
A nova normativa invalida a lei de 1929. O Tratado de Latrão, um dos pactos lateranenses de 1929, assinado e ratificado entre o Reino de Itália e a Santa Sé, pôs fim à "Questão Romana", tendo o Vaticano adoptado o Ordenamento Jurídico italiano.
Até à data, a rejeição da adopção de uma lei do Estado italiano, por parte do Vaticano, era excepcional e motivada por uma "incompatibilidade radical".
Segundo Serrano Ruiz, a nova norma do Vaticano, aprovada em Outubro por Bento XVI, foi necessária devido ao «número exorbitante» de leis italianas, assim como ao seu carácter «variável» que, «com demasiada frequência, contrastam com os princípios irrenunciáveis por parte da Igreja Católica».
Para os analistas, esta decisão do Vaticano reage, assim, perante leis como a do divórcio, mas também a futuras leis sobre a família ou homossexualidade.
Por isso, «ao actual filtro quis-se acrescentar um travão oficial», disse Marco Politi num artigo hoje publicado no diário "La Repubblica".

1 comentário
Será que A Cidade-Estado Vaticano se quer tornar numa ilha paradisíaca de inspiração no “Direito Canónico”! Bento XVI e a Cúria Romana assim o entendem. Às omissões ao “Direito Canónico” serão utilizadas somente e apenas «fontes supletivas» das leis Italianas penso eu. Se o primeiro ministro Silvio Berlusconi fosse um tirano, como Bento XVI ao nível da governação e relações institucionais entre estados, poderia decretar um bloqueio à Cidade-Estado Vaticano, por rotura de relações sem acordo prévio. Como chegariam os peregrinos à cidade do Vaticano e como seriam os abastecimentos da cidade. Claro que isto é uma utopia pois ambos os estados perdiam turistas e portanto dinheiro. Mas a verdade que para abortar, divorciar-se, etc., não é necessário ir ao Vaticano, nem à Itália. A Igreja dita Católica, cada vez está mais se restringe a uma cidade onde se vive com ostentação e meia dúzia de Clérigos envelhecidos e ultrapassados, que não querem ver a realidade. Como diz o ditado “O mais cego é aquele que não quer ver o que o rodeia”. Uma Igreja oriunda do Oriente e radicada em Roma por interesses de um Imperador, será sempre verdadeiramente superficial, falta-lhe as raízes profundas do Judaísmo. Yoshua ben Yosef era judeu de Nazaré e não deixou de ser “O Filho do Homem”. E Maria sua mãe! Um bem-haja
SAL MARINHO 31.12.2008 17.03H
Igreja Católica: uma grande seita?



Leonardo Boff *

Os acontecimentos ocorridos nos últimos meses dentro da Igreja Romano-Católica fazem suscitar a questão do risco de esta assumir claramente comportamentos de seita. Bento XVI está imprimindo um curso à Igreja Católica, provocando severas críticas não apenas de teólogos, mas de cardeais, de inteiros episcopados como o da França, de grupos de bispos da Alemanha e, espantosamente, de bispos da romaníssima Itália, além de outros líderes religiosos e de organismos ecumênicos mundiais. Desde seu tempo de Cardeal, tem tratado os grupos progressistas e os teólogos da libertação a bastonadas e com pele de pelica os conservadores e tradicionalistas, seguidores do Bispo Lefèbvre, excomungado em 1988 e que à revelia de Roma ordenou bispos e padres. O Vaticano acabou por acatar seus seminários onde formam o clero no rito tradicionalista. E agora acaba de atender a uma de suas demandas maiores: voltar à missa em latim do Concílio de Trento (1545-1563) com todas as limitações históricas, hoje inaceitáveis. Ai se reza "pelos pérfidos judeus" para que aceitem Jesus como Messias.
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O mais grave ocorreu logo em seguida, com a publicação de cinco questões sobre a igreja, oriunda da Congregação da Doutrina da Fé e aprovada pelo Papa, na qual se repete o que o então Cardeal J. Ratzinger, em 2000, enfatizava no documento Dominus Jesus, verdadeiro exterminador do futuro do ecumenismo: a única Igreja de Cristo subsiste somente na Católica, fora da qual não há salvação. As demais "igrejas" não o são, pois possuem apenas "elementos eclesiais" e a Igreja Ortodoxa, tida como uma expressão da catolicidade, foi rebaixada a simples igreja particular. Estas posições reacendem a guerra religiosa quando todos estão buscando a paz, cuja realização é enfraquecida pela Igreja.
A Igreja está se isolando mais e mais de tudo. Sua base social são principalmente os movimentos, medíocres no pensamento e subservientes às autoridades; preferem a aeróbica de Deus a confrontar-se com os problemas da pobreza e da injustiça. Uma Igreja se comporta como seita, segundo clássicos como Troeltsch e Weber, quando tem a pretensão absolutista de deter sozinha a verdade, quando se nega ao diálogo, rejeita o trabalho ecumênico e manifesta crescente autofinalização. Nesse sentido, cabe lembrar que o Vaticano não assinou, em 1948, a Carta dos Direitos Humanos; se recusou entrar no Conselho Mundial de Igrejas porque ela se julga acima e não junto das demais Igrejas; negou-se a apoiar a convocação de um Concílio universal de todos os cristãos na perspectiva da paz mundial, sob o pretexto de que cabe exclusivamente a Roma fazê-lo; proibiu a compra dos cartões da UNICEF destinados à infância carente, alegando que esta entidade favorecia o uso de preservativos. Ao lado disso, cresce o patrimônio imobiliário da Igreja que, segundo pesquisas (Adista 2/6/07), chega a 1/5 de todo o patrimônio italiano e romano. A especulação imobiliária e financeira rendeu ao Vaticano, entre 2004-2005, 1,47 bilhões de Euros.
A estratégia doutrinal do atual Papa é a do confronto direto com a modernidade, num pessimismo cultural inadmissível em alguém que deveria saber que o Espírito não é monopólio da Igreja e que a salvação é oferecida a todos.
Não causaria espanto se alguns mais radicais, animados por gestos do atual Papa, tentassem um cisma na Igreja. No século IV quase todos os bispos aderiram à heresia do arianismo (Cristo apenas semelhante a Deus). Foram os leigos que salvaram a Igreja, proclamando Jesus como Filho de Deus. É urgente atualizar esta história, dada a estreiteza de mente e o vazio teológico reinante nos altos escalões da Igreja.


lboff@leonardoboff.com
Igreja Católica já está preparada para um papa negro, diz jornal
A eleição de Barack Obama "representa um grande passo para a humanidade

France Presse

A Igreja Católica, à imagem dos Estados Unidos que elegeram um presidente negro, está preparada atualmente para um papa negro, estima o chefe da conferência episcopal americana Wilton Daniel Gregory, ele mesmo um afro-americano, ouvido ontem pelo jornal italiano "La Stampa". A eleição de Barack Obama "representa um grande passo para a humanidade, um sinal de que nos Estados Unidos a questão da raça e o problema da discriminação foram ultrapassados", alegrou-se Monsenhor Gregory, o primeiro negro a dirigir a Igreja americana. "A Igreja, em si, também, já deu passos impressionantes", acrescentou o prelado, destacando o caráter mais e mais "internacional e cosmopolita" da cúria, que governa a Igreja no Vaticano. Eleger um papa negro e principalmente africano "é certamente possível. Graças à sabedoria dos cardinais, isso poderia acontecer no próximo conclave", após a morte de Bento 16, estima Monsenhor Gregory. Wilton Daniel Gregory, 60, de Chicago, foi eleito em 2001 presidente da conferência episcopal americana.