20090105

VATICANO
Igreja Católica deixa de aplicar leis italianas
31 12 2008 14.10H


O Vaticano anunciou hoje que a partir de 1 de Janeiro não aplicará automaticamente as leis italianas, decisão que abalou o país onde estão actualmente em debate projectos éticos e sociais controversos.
Destak/Lusa
destak@destak.pt

Até à data, o Vaticano transpunha automaticamente as leis de Itália para a cidade-Estado, salvo se houvesse «incompatibilidade radical» com os valores católicos (divórcio, aborto e outros).
Na sequência de medidas aprovadas pelo Papa Bento XVI, em Outubro, as leis italianas passarão a ser, a partir de 1 de Janeiro, apenas «fontes supletivas» para as leis do Vaticano, que se inspiram essencialmente no Direito Canónico.
Num artigo, na edição de hoje do diário do Vaticano, L'Osservatore Romano, o presidente do Tribunal de Apelação do Estado da Cidade do Vaticano, o espanhol José María Serrano Ruiz, refere a decisão do Papa.
A nova normativa invalida a lei de 1929. O Tratado de Latrão, um dos pactos lateranenses de 1929, assinado e ratificado entre o Reino de Itália e a Santa Sé, pôs fim à "Questão Romana", tendo o Vaticano adoptado o Ordenamento Jurídico italiano.
Até à data, a rejeição da adopção de uma lei do Estado italiano, por parte do Vaticano, era excepcional e motivada por uma "incompatibilidade radical".
Segundo Serrano Ruiz, a nova norma do Vaticano, aprovada em Outubro por Bento XVI, foi necessária devido ao «número exorbitante» de leis italianas, assim como ao seu carácter «variável» que, «com demasiada frequência, contrastam com os princípios irrenunciáveis por parte da Igreja Católica».
Para os analistas, esta decisão do Vaticano reage, assim, perante leis como a do divórcio, mas também a futuras leis sobre a família ou homossexualidade.
Por isso, «ao actual filtro quis-se acrescentar um travão oficial», disse Marco Politi num artigo hoje publicado no diário "La Repubblica".

1 comentário
Será que A Cidade-Estado Vaticano se quer tornar numa ilha paradisíaca de inspiração no “Direito Canónico”! Bento XVI e a Cúria Romana assim o entendem. Às omissões ao “Direito Canónico” serão utilizadas somente e apenas «fontes supletivas» das leis Italianas penso eu. Se o primeiro ministro Silvio Berlusconi fosse um tirano, como Bento XVI ao nível da governação e relações institucionais entre estados, poderia decretar um bloqueio à Cidade-Estado Vaticano, por rotura de relações sem acordo prévio. Como chegariam os peregrinos à cidade do Vaticano e como seriam os abastecimentos da cidade. Claro que isto é uma utopia pois ambos os estados perdiam turistas e portanto dinheiro. Mas a verdade que para abortar, divorciar-se, etc., não é necessário ir ao Vaticano, nem à Itália. A Igreja dita Católica, cada vez está mais se restringe a uma cidade onde se vive com ostentação e meia dúzia de Clérigos envelhecidos e ultrapassados, que não querem ver a realidade. Como diz o ditado “O mais cego é aquele que não quer ver o que o rodeia”. Uma Igreja oriunda do Oriente e radicada em Roma por interesses de um Imperador, será sempre verdadeiramente superficial, falta-lhe as raízes profundas do Judaísmo. Yoshua ben Yosef era judeu de Nazaré e não deixou de ser “O Filho do Homem”. E Maria sua mãe! Um bem-haja
SAL MARINHO 31.12.2008 17.03H
Igreja Católica: uma grande seita?



Leonardo Boff *

Os acontecimentos ocorridos nos últimos meses dentro da Igreja Romano-Católica fazem suscitar a questão do risco de esta assumir claramente comportamentos de seita. Bento XVI está imprimindo um curso à Igreja Católica, provocando severas críticas não apenas de teólogos, mas de cardeais, de inteiros episcopados como o da França, de grupos de bispos da Alemanha e, espantosamente, de bispos da romaníssima Itália, além de outros líderes religiosos e de organismos ecumênicos mundiais. Desde seu tempo de Cardeal, tem tratado os grupos progressistas e os teólogos da libertação a bastonadas e com pele de pelica os conservadores e tradicionalistas, seguidores do Bispo Lefèbvre, excomungado em 1988 e que à revelia de Roma ordenou bispos e padres. O Vaticano acabou por acatar seus seminários onde formam o clero no rito tradicionalista. E agora acaba de atender a uma de suas demandas maiores: voltar à missa em latim do Concílio de Trento (1545-1563) com todas as limitações históricas, hoje inaceitáveis. Ai se reza "pelos pérfidos judeus" para que aceitem Jesus como Messias.
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O mais grave ocorreu logo em seguida, com a publicação de cinco questões sobre a igreja, oriunda da Congregação da Doutrina da Fé e aprovada pelo Papa, na qual se repete o que o então Cardeal J. Ratzinger, em 2000, enfatizava no documento Dominus Jesus, verdadeiro exterminador do futuro do ecumenismo: a única Igreja de Cristo subsiste somente na Católica, fora da qual não há salvação. As demais "igrejas" não o são, pois possuem apenas "elementos eclesiais" e a Igreja Ortodoxa, tida como uma expressão da catolicidade, foi rebaixada a simples igreja particular. Estas posições reacendem a guerra religiosa quando todos estão buscando a paz, cuja realização é enfraquecida pela Igreja.
A Igreja está se isolando mais e mais de tudo. Sua base social são principalmente os movimentos, medíocres no pensamento e subservientes às autoridades; preferem a aeróbica de Deus a confrontar-se com os problemas da pobreza e da injustiça. Uma Igreja se comporta como seita, segundo clássicos como Troeltsch e Weber, quando tem a pretensão absolutista de deter sozinha a verdade, quando se nega ao diálogo, rejeita o trabalho ecumênico e manifesta crescente autofinalização. Nesse sentido, cabe lembrar que o Vaticano não assinou, em 1948, a Carta dos Direitos Humanos; se recusou entrar no Conselho Mundial de Igrejas porque ela se julga acima e não junto das demais Igrejas; negou-se a apoiar a convocação de um Concílio universal de todos os cristãos na perspectiva da paz mundial, sob o pretexto de que cabe exclusivamente a Roma fazê-lo; proibiu a compra dos cartões da UNICEF destinados à infância carente, alegando que esta entidade favorecia o uso de preservativos. Ao lado disso, cresce o patrimônio imobiliário da Igreja que, segundo pesquisas (Adista 2/6/07), chega a 1/5 de todo o patrimônio italiano e romano. A especulação imobiliária e financeira rendeu ao Vaticano, entre 2004-2005, 1,47 bilhões de Euros.
A estratégia doutrinal do atual Papa é a do confronto direto com a modernidade, num pessimismo cultural inadmissível em alguém que deveria saber que o Espírito não é monopólio da Igreja e que a salvação é oferecida a todos.
Não causaria espanto se alguns mais radicais, animados por gestos do atual Papa, tentassem um cisma na Igreja. No século IV quase todos os bispos aderiram à heresia do arianismo (Cristo apenas semelhante a Deus). Foram os leigos que salvaram a Igreja, proclamando Jesus como Filho de Deus. É urgente atualizar esta história, dada a estreiteza de mente e o vazio teológico reinante nos altos escalões da Igreja.


lboff@leonardoboff.com
Igreja Católica já está preparada para um papa negro, diz jornal
A eleição de Barack Obama "representa um grande passo para a humanidade

France Presse

A Igreja Católica, à imagem dos Estados Unidos que elegeram um presidente negro, está preparada atualmente para um papa negro, estima o chefe da conferência episcopal americana Wilton Daniel Gregory, ele mesmo um afro-americano, ouvido ontem pelo jornal italiano "La Stampa". A eleição de Barack Obama "representa um grande passo para a humanidade, um sinal de que nos Estados Unidos a questão da raça e o problema da discriminação foram ultrapassados", alegrou-se Monsenhor Gregory, o primeiro negro a dirigir a Igreja americana. "A Igreja, em si, também, já deu passos impressionantes", acrescentou o prelado, destacando o caráter mais e mais "internacional e cosmopolita" da cúria, que governa a Igreja no Vaticano. Eleger um papa negro e principalmente africano "é certamente possível. Graças à sabedoria dos cardinais, isso poderia acontecer no próximo conclave", após a morte de Bento 16, estima Monsenhor Gregory. Wilton Daniel Gregory, 60, de Chicago, foi eleito em 2001 presidente da conferência episcopal americana.

20081226






A Igreja Universal do Reino de Deus, vulga IURD, foi fundada em 1977 pelo líder bispo Edir Macedo e já está presente em mais de 172 países. A doutrina neopentecostal da IURD é duramente criticada, tanto por fiéis de outras religiões como pelos que não são adeptos de nenhuma religião.
Há vários fatos comprovados da má fé do bispo Edir Macedo, incluem-se ai, materiais que vão desde processos que correm na Justiça até vídeos que evidenciam as práticas ilegais da Igreja Universal e sua cúpula diabólica: pastores e bispos que escarnecem da miséria que gera luxúria.
Nesse breve contexto, podemos perguntar: como a Igreja Universal consegue continuar crescendo mesmo com sua má fé comprovada?
Uma tentativa de resposta, necessariamente, deve perpassar pelos contextos social e cultural em suas relações com as manifestações litúrgicas de um povo, no entanto, irei me deter a um dos aspectos que diferencia a IURD das demais doutrinas, inclusive de outras neopentecostais: o culto à riqueza.
Para o bispo Edir Macedo, Deus é rico, portanto, ele não quer que você seja pobre. Enquanto para as outras religiões a riqueza é considerada, dentro do plano doutrinário, um elemento que pode colocar a fé em dúvida com o plano divino, na IURD ela fica à mostra, tanto nas múltiplas faces da vida do líder como nas construções dos templos. Entre os princípios da IURD, um deles nos aponta: “Todos os cristãos têm o direito à vida abundante, conforme as Palavras do Senhor Jesus: ‘… eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.’”
Nesse sentido, a IURD evidencia um dos aspectos apontados pelo sociólogo Zygmunt Bauman, como elemento central na definição da vida das pessoas e das relações entre pessoas e instituições e vice-versa: a ordem do consumo que perpassa por todas as classes e meios sociais. Na religião o consumismo está presente e dita o arrebatamento dos fiéis.
A fé vem sendo transformada em “produtos”, isto é, há um ritual ou manifestação específica que promete cura/libertação de problemas nas quais as pessoas enfrentam, sejam eles de ordem material ou “espiritual”. Entre os mais comuns, podemos citar os que se referem a falta de dinheiro e/ou emprego, a cura de doenças que vão desde uma infecção simples até um câncer terminal, a libertação da insatisfação vivida pelos cônjuges, a libertação de alguma “possessão demoníaca” que é culpabilizada pela vida não estar dando certo, etc
.
Percebe-se que muitos problemas derivam da esfera social, causando impacto, certamente, na singularidade existencial de cada um, e o oposto também acontece, na interação sujeito e mundo não se separa a vida do objeto, mas o que é importante notar é que a busca de soluções concretas dentro dos setores governamentais e jurídicos são relegados. O bispo/pastor/líder espiritual passa a ser aquele que poderá aliviar as desgraças, sejam elas de qual ordem for, afinal, Deus é tudo em um.
Nesse sentido, as religiões assumem o caráter de magia, isto é, “soluções práticas e rápidas” para problemas em específicos. O religioso não tem mais necessidade de fazer suas duras penitências em uma constância exigida pelo plano divino, o auxílio religioso passa a ser de acordo com os problemas. Não significa aqui que as pessoas passam a buscar a instituição religiosa apenas quando precisam, mas que buscam sob a ordem do consumo, isto é, procura uma liturgia específica para o problema.
Como os problemas são freqüentes, e a fé pode torná-los ainda mais intensos, na medida em que “fecha” os olhos para a busca de outras soluções dependendo dos ideais de fé de cada fiel, os religiosos podem perfeitamente manter uma freqüência considerável não só na sua igreja mas também em busca de outras que apresentam melhores ofertas.
Tais ofertas podem ser entendidas como recursos extras que as igrejas oferecem para conquistar o fiel. Se na Idade Média a igreja católica queria se firmar enquanto fé universal, fazia-se necessário a guerra em nome de Deus, hoje, dentro de uma pluralidade religiosa, é bem óbvio que o papa não irá mais convocar os fiéis para matarem os “pagãos”. A “guerra” vem bem disfarçada em forma de solidariedade, amor, fraternidade e outras oferendas embaladas em soluções específicas de cura, libertação e conquistas.
As instituições religiosas oferecem vários locais litúrgicos, distribuem entre os dias e horas um variado “cardápio”, de forma que se estou com um problema de ordem demoníaca eu não vou à sessão empresarial, procuro um local ou uma hora onde posso consumir uma “sessão do descarrego”.
Embora várias religiões estejam se adaptando a nova ordem do consumo, a IURD se desponta nesse aspecto. Em suas especialidades, há, inclusive, sessões para empresários que buscam atender os que estão à falência ou os que desejam aumentar seus milhões.
A ordem do consumo implica não só em uma disposição administrativa da igreja e numa variabilidade de ritos para atender os desejos do “impossível”, faz-se presente também, em formas de “brindes” e regalias, tais como, (1) oferecer gasolina para os fiéis, (2) criação de bares, (3) oferecimento de prática esportiva para atrair jovens e uma infinidade de eventos, shows e pequenas obras de cunho “social”, tais como cursos de artesanato, pintura, bordado, etc.
O consumismo é cego, a fé também pode ser cega, de forma que juntam-se numa cegueira só, eufórica e bem apresentável sob a forma de felicidade. Um fim, um produto, uma nova vida: qualquer coisa que acena para uma negação da vida concreta em detrimento de uma vida no supra-sensível dos ideais, capaz de eliminar todo sofrimento e trazer felicidade eterna, é possível de ser acolhida com bom grado e afagos, nem que para isso seja necessário negar todas as evidências que tornam o herói Edir Macedo em um grande diabo que faz dinheiro com a miséria humana.




Religião e sentimento de culpa para Nietzsche

Epílogo:

Esse quebrar-se a si mesmo, esse zombar da própria natureza (…), no qual as religiões deram tanta importância, é na verdade um altíssimo grau de vaidade. Toda a moral do Sermão da Montanha faz parte disso: o ser humano tem verdadeiro prazer em violentar-se com exigências exageradas, e depois endeusarem sua alma com esse Algo tirânico e exigente. Em toda moral ascética o ser humano reza para uma parte de si mesmo como um Deus, e por isso necessariamente tem de demonizar a outra parte (…)”. – Humano, demasiado humano; Nietzsche
Uma das principais temáticas abordadas por Friedrich Nietzsche gira em torno da moral, uma das obsessões do filósofo. Contextualizada em sua análise da gênese da moral e suas implicações para as culturas, encontramos uma discussão capaz de ressoar no atual momento de euforia religiosa, sobretudo, a evangélica que vem crescendo no mundo ocidental: o sentimento de culpa, elemento tão marcante das religiões, principalmente na versão cristã.
Embora seja difícil traçar um único momento dessa análise por parte de Nietzsche, já que o mesmo está sempre retomando os temas em suas obras, podemos encontrar sua exposição sobre a origem do sentimento de culpa e suas implicações para a humanidade em “Humano, demasiado humano” e “Aurora”, obras escritas no período de 1878 a 1881.
Nesse momento Nietzsche entende a religião como uma metafísica do povo, na medida em que a mesma serve para anestesiar males que aterrorizam os homens. Se o conhecimento sobre a natureza avançar os homens passam a depender menos de causas sobrenaturais, de tal modo que, diante de uma determinada enfermidade já conhecida utilizamos um medicamento e/ou procedimentos médicos em detrimento das rezas e sacrifícios. Decorre um pouco desse raciocínio a famosa frase “Deus está morto!” que traduz o assassinato de Deus pela modernidade – não é virando ateu que se mata Deus, matamo-lo na medida em que passamos a substituir a reza pela ciência, mesmo que seja nos pequenos atos como no exemplo do medicamento. Nesse sentido, o dinossauro medieval atual, vulgo papa Bento XVI, também é um legítimo assassino de Deus.
Esse ponto de vista não significa que o a religiosidade seja destruída, apenas limita o poder dos sacerdotes e da instituição Igreja; a principal sustância, que se trata da crença em um destino futuro, permanece fortemente cristalizada no ideário religioso.
O sentimento de culpa é um recurso de forte sustentação e manutenção das religiões descendentes do judaísmo-cristão. Essa característica não é unicamente criação do cristianismo, suas raízes estão fortemente ligadas com o legado do pensamento socrático, platônico e cristão. (complemento: Nietzsche contra Sócrates >>)
Na tentativa de apontar fundamentos para esse recurso da fé cristã, Nietzsche se debruça sobre a religião da Grécia Clássica; neste momento a percepção de si mesmo não é denegrida, pelo contrário, os deuses gregos dividiam com os humanos os mesmos “defeitos” e “virtudes”, de tal forma que não era uma característica do homem ser fraco e pecador, enquanto a perfeição e poder absoluto ficavam para um deus absoluto.
Para Nietzsche o cristianismo é originalmente uma religião que encontrou solo fértil no meio de pessoas que viviam na miséria e na opressão, uma religião pobre em auto-estima. Os homens foram banhados na lama com os ideais cristãos, no entanto, apenas essa constatação não deixou Nietzsche satisfeito quanto à origem do sentimento de culpa.
Outras três causas são apontadas pelo filósofo. Uma delas é o esfacelamento da cultura romana que já demonstrava desgastes frente às invasões bárbaras e a presença de outras culturas que minavam o poder romano. Aqui o sentimento de culpa pode ter funcionado como um “excitante” ou “droga” para que os homens dessa época buscassem uma redenção divina. Neste momento batia à porta o cristianismo, oferecendo aos homens um novo encanto para a vida, uma possibilidade de converter todos os males de uma cultura envelhecida em uma redenção que cintila no futuro – a vida na eternidade.
Uma segunda causa Nietzsche vai buscar na psicologia dos homens considerados santos, mártires e ascetas. Nesses homens cresce um vigoroso sentimento religioso. Eles combatem com ímpeto o próprio corpo, os desejos, os pensamentos e os impulsos; consideram-se baixos e vulgares sendo necessário, para não perecer, estar sempre buscando a “purificação”. Porém, Nietzsche nos aponta que, embora possam parecer homens “humildes’, eles são a miséria e a glória, a fraqueza e o poder. Isso porque o homem, segundo o filósofo, é capaz de olhar para si e ver uma natureza de encantamento e ao mesmo tempo obscura, misteriosa e perigosa.
Como conseqüência e última causa, Nietzsche aponta que o “’ser humano ama algo em si, um pensamento, um desejo, um produto, mais do que outra coisa em si, que portanto ele dilacera sua natureza e sacrifica uma parte dela pela outra (…)”. Nesse sentido, o santo, o mártir e o asceta encontram o triunfo no rebaixamento que oculta uma humilhação carregada de orgulho.
O ideal tão valorizado pelas religiões cristianizadas, isto é, o denegrir a vida, o corpo e o homem, escondem no fundo a vaidade, a prepotência e um orgulho desmedido.
Certamente que o exposto são algumas considerações do pensamento de Nietzsche sobre a religião e o poderoso veneno do sentimento de culpa. Faz-se necessário, ao leitor mais interessado no assunto, buscar conhecer a análise da origem e implicações da moral, além do pensamento socrático e suas implicações para as culturas; esses elementos estão presentes no pensamento do filósofo que se debruçou sobre uma cultura que se firmou pelo “Conhecimento sem conhecimento”.Sentimento de culpa cristão na atualidade
Um olhar mais atento na realidade atual pode nos mostrar que os prazeres e os desprazeres da vida mudaram, no entanto, a essência do sentimento de culpa, isto é, sua capacidade de mutilar a vida e a alegria do aqui-e-agora em detrimento de uma vida eterna, continuam vingando, fazendo vítimas e sepultando pessoas. Vemos isso com freqüência em nossa sociedade predominantemente religiosa: o desejo sexual reprimido retornando em forma de neuroses; a violência contra a mulher e as crianças; os sacrifícios de animais que lamentavelmente ainda são praticados como forma de redenção; a culpabilização do corpo e da vida material enquanto algozes da moral cristã, etc. – Além da terrível e brutal esterilização de pensamentos questionadores dos dogmas, implicando em autopunições danosas ao fiel que “ousar” se perguntar quanto à veracidade de seus valores. As formas que o sacrifício e a flagelação podem assumir irão variar de acordo com os graus de fé e submissão.
Referências:
NIETZSCHE, F., Humano, demasiado humano: um livro para espíritos livres. São Paulo: Companhia das letras, 2000._________, F., Aurora. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
Igreja Católica sofrerá “grande crise interna”, afirma Leonardo Boff

A Igreja Católica sofrerá uma “grande crise interna” porque os milhões de católicos do mundo não têm uma representação adequada nos assuntos administrativos do Vaticano, declarou o teólogo Leonardo Boff, promotor da Teologia da Libertação, nesta segunda-feira (28).
“A futura crise na Igreja Católica se dará, porque no Vaticano não se encontram todos os genuínos representantes dos católicos no mundo”, disse Boff, em conversa com os jornalistas, após uma visita ao presidente paraguaio , Fernando Lugo, bispo católico suspenso pelo Vaticano por se dedicar à política.
“Na maioria dos países latino-americanos, pratica-se o catolicismo e existe a maior quantidade de praticantes dessa religião do que em outros continentes”, avaliou Boff, insistindo em que “esses católicos não estão bem representados”.
Quando era cardeal, chefe da Congregação da Doutrina da Fé, o agora papa Joseph Ratzinger puniu Boff por sua pregação em favor da Teologia da Libertação.
“O crescimento zero da Igreja Católica no planeta” é outro fator que atiçará sua crise interna, vaticinou Boff.
Durante seu encontro com Lugo, o religioso brasileiro se pôs à sua disposição para assessorá-lo.
Fonte: France Presse
Em Ribeirãp Preto/SP:

Igreja católica também aceita dízimo pago com cartão

A Catedral de Ribeirão Preto vai usar máquina de cartão de crédito para receber pagamento de casamento, batizado e até dízimo. No domingo, após a última missa das 19h, o padre Francisco Zanardo Moussa vai benzer o equipamento, que entra em uso no dia seguinte.
Até então, a única opção era depositar o dinheiro numa caixa de ferro, com cadeado, na entrada do templo.
É a primeira igreja a instalar o sistema on-line em Ribeirão, comenta padre Chicão, como é conhecido. Pode ser a primeira no Brasil também.
A CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) não tem conhecimento do uso desse tipo de equipamento no país, nem a arquidiocese de São Paulo, com 284 paróquias, segundo as respectivas assessorias de imprensa.
Na arquidiocese de Ribeirão, o contador Caetano Marquese afirma não ter conhecimento de que alguma de suas 84 igrejas utilize a máquina de cartão de crédito.
Na missa, não
Padre Chicão afirma, no entanto, que a máquina não será usada nas missas, mas apenas na secretaria da igreja, em horário comercial. “Se colocasse na missa, a cerimônia perderia o sentido da eucaristia e passaria a ser comercial”.
De acordo com o pároco, que cursa o terceiro ano de Administração de Empresas, a instalação das máquinas está dentro de um processo de melhoria no atendimento paroquial. “É para facilitar a vida dos fiéis; eles perguntam se não podem pagar com o cartão”.
Hoje, a Catedral tem 800 dizimistas fiéis. O dízimo é uma proposta bíblica que a pessoa cumpre se quiser, diz padre Chicão. “Se você oferece para a comunidade, no sentido de despojamento e disponibilidade, recebe os sinais de Deus em troca”.
O padre não comenta quanto a igreja recebe em dízimo. Mas diz que não é suficiente para pagar despesas fixas, como os nove funcionários e a energia. “Fazemos festas e rifas para completar”.
Ele também não comenta o valor em ofertas. A cada fim de semana, 4.000 pessoas freqüentam as seis missas.
Com Visa ou Mastercard, casais poderão pagar - R$ 350 com efeito civil, ou R$ 220, só o religioso. Já a taxa para batizado é de R$ 42. No débito ou no crédito, o dinheiro cai na conta da paróquia.
A Catedral pagará taxa administrativa mensal de R$ 19, ao banco, em vez dos R$ 89 cobrados de estabelecimentos comerciais, pelo uso do equipamento, diz o padre.
NÚMEROS DA IGREJA CATÓLICA EM RIBEIRÃO
4 mil fiéis freqüentam a Catedral, no sábado e no domingo.
A média é de 666 pessoas em cada uma das seis missas, no final de semana.
800 fiéis são dizimistas na Catedral. O dízimo é 10% do salário.
A taxa para casamento é de R$ 350, com efeito civil.
Cada batizado custa R$ 42.
As máquinas recebem cartões Visa e Mastercard, no débito (à vista) e no crédito (é possível parcelar).
R$ 52 mil custou a reforma da secretaria, onde ficam as máquinas de cartões e os guichês de atendimento.
R$ 1 milhão irá custar o novo prédio de catequese da Catedral.
CNBB diz que cartão é mais seguro
A CNBB não vetou o uso de cartão de crédito. “Cada pároco pode decidir que recurso administrativo usar, consonante com sua arquidiocese”, diz o ecônomo (administrador financeiro) da CNBB, Francisco Souza.
O administrador da CNBB, diz não ver problemas no uso do cartão. “É mais seguro que deixar o dinheiro do dízimo na igreja, à mercê de assaltantes”, declara.
Dom Joviano de Lima Júnior, arcebispo local, está num congresso em Roma e só volta em novembro, por isso não pôde comentar.
Catedral terá prédio de R$ 1 mi
Padre Chicão também vai construir um centro de catequese, a partir de fevereiro. O prédio, de dois andares, está orçado em R$ 1 milhão.
A última obra foi a reforma de R$ 52 mil da secretaria administrativa da Catedral, onde vão ficar as máquinas de cartão de crédito.

Fonte: Jornal A Cidade/O verbo