20081226






A Igreja Universal do Reino de Deus, vulga IURD, foi fundada em 1977 pelo líder bispo Edir Macedo e já está presente em mais de 172 países. A doutrina neopentecostal da IURD é duramente criticada, tanto por fiéis de outras religiões como pelos que não são adeptos de nenhuma religião.
Há vários fatos comprovados da má fé do bispo Edir Macedo, incluem-se ai, materiais que vão desde processos que correm na Justiça até vídeos que evidenciam as práticas ilegais da Igreja Universal e sua cúpula diabólica: pastores e bispos que escarnecem da miséria que gera luxúria.
Nesse breve contexto, podemos perguntar: como a Igreja Universal consegue continuar crescendo mesmo com sua má fé comprovada?
Uma tentativa de resposta, necessariamente, deve perpassar pelos contextos social e cultural em suas relações com as manifestações litúrgicas de um povo, no entanto, irei me deter a um dos aspectos que diferencia a IURD das demais doutrinas, inclusive de outras neopentecostais: o culto à riqueza.
Para o bispo Edir Macedo, Deus é rico, portanto, ele não quer que você seja pobre. Enquanto para as outras religiões a riqueza é considerada, dentro do plano doutrinário, um elemento que pode colocar a fé em dúvida com o plano divino, na IURD ela fica à mostra, tanto nas múltiplas faces da vida do líder como nas construções dos templos. Entre os princípios da IURD, um deles nos aponta: “Todos os cristãos têm o direito à vida abundante, conforme as Palavras do Senhor Jesus: ‘… eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.’”
Nesse sentido, a IURD evidencia um dos aspectos apontados pelo sociólogo Zygmunt Bauman, como elemento central na definição da vida das pessoas e das relações entre pessoas e instituições e vice-versa: a ordem do consumo que perpassa por todas as classes e meios sociais. Na religião o consumismo está presente e dita o arrebatamento dos fiéis.
A fé vem sendo transformada em “produtos”, isto é, há um ritual ou manifestação específica que promete cura/libertação de problemas nas quais as pessoas enfrentam, sejam eles de ordem material ou “espiritual”. Entre os mais comuns, podemos citar os que se referem a falta de dinheiro e/ou emprego, a cura de doenças que vão desde uma infecção simples até um câncer terminal, a libertação da insatisfação vivida pelos cônjuges, a libertação de alguma “possessão demoníaca” que é culpabilizada pela vida não estar dando certo, etc
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Percebe-se que muitos problemas derivam da esfera social, causando impacto, certamente, na singularidade existencial de cada um, e o oposto também acontece, na interação sujeito e mundo não se separa a vida do objeto, mas o que é importante notar é que a busca de soluções concretas dentro dos setores governamentais e jurídicos são relegados. O bispo/pastor/líder espiritual passa a ser aquele que poderá aliviar as desgraças, sejam elas de qual ordem for, afinal, Deus é tudo em um.
Nesse sentido, as religiões assumem o caráter de magia, isto é, “soluções práticas e rápidas” para problemas em específicos. O religioso não tem mais necessidade de fazer suas duras penitências em uma constância exigida pelo plano divino, o auxílio religioso passa a ser de acordo com os problemas. Não significa aqui que as pessoas passam a buscar a instituição religiosa apenas quando precisam, mas que buscam sob a ordem do consumo, isto é, procura uma liturgia específica para o problema.
Como os problemas são freqüentes, e a fé pode torná-los ainda mais intensos, na medida em que “fecha” os olhos para a busca de outras soluções dependendo dos ideais de fé de cada fiel, os religiosos podem perfeitamente manter uma freqüência considerável não só na sua igreja mas também em busca de outras que apresentam melhores ofertas.
Tais ofertas podem ser entendidas como recursos extras que as igrejas oferecem para conquistar o fiel. Se na Idade Média a igreja católica queria se firmar enquanto fé universal, fazia-se necessário a guerra em nome de Deus, hoje, dentro de uma pluralidade religiosa, é bem óbvio que o papa não irá mais convocar os fiéis para matarem os “pagãos”. A “guerra” vem bem disfarçada em forma de solidariedade, amor, fraternidade e outras oferendas embaladas em soluções específicas de cura, libertação e conquistas.
As instituições religiosas oferecem vários locais litúrgicos, distribuem entre os dias e horas um variado “cardápio”, de forma que se estou com um problema de ordem demoníaca eu não vou à sessão empresarial, procuro um local ou uma hora onde posso consumir uma “sessão do descarrego”.
Embora várias religiões estejam se adaptando a nova ordem do consumo, a IURD se desponta nesse aspecto. Em suas especialidades, há, inclusive, sessões para empresários que buscam atender os que estão à falência ou os que desejam aumentar seus milhões.
A ordem do consumo implica não só em uma disposição administrativa da igreja e numa variabilidade de ritos para atender os desejos do “impossível”, faz-se presente também, em formas de “brindes” e regalias, tais como, (1) oferecer gasolina para os fiéis, (2) criação de bares, (3) oferecimento de prática esportiva para atrair jovens e uma infinidade de eventos, shows e pequenas obras de cunho “social”, tais como cursos de artesanato, pintura, bordado, etc.
O consumismo é cego, a fé também pode ser cega, de forma que juntam-se numa cegueira só, eufórica e bem apresentável sob a forma de felicidade. Um fim, um produto, uma nova vida: qualquer coisa que acena para uma negação da vida concreta em detrimento de uma vida no supra-sensível dos ideais, capaz de eliminar todo sofrimento e trazer felicidade eterna, é possível de ser acolhida com bom grado e afagos, nem que para isso seja necessário negar todas as evidências que tornam o herói Edir Macedo em um grande diabo que faz dinheiro com a miséria humana.




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